27 de jun. de 2007

Apagão

Vixiii! Sumiram TODOS os comentários.
Sumiu minha linda imagem da borboleta que ficava junto ao título.
Julie, socooooorrrroooo!

10 de abr. de 2007

Cora Coralina

19 de dez. de 2006

Pensamento Essênio

"Cuidado com seus pensamentos,
pois eles se tornarão suas palavras;
Cuidado com suas palavras,
pois elas se tornarão seus atos;
Cuidado com seus atos,
pois eles se tornarão seus hábitos;
Cuidado com seus hábitos,
pois eles formarão o seu caráter;
Cuidado com seu caráter,
pois ele determinará o seu destino."
Essa é a nossa grande e efetiva responsabilidade.
Depende apenas de nós.

1 de out. de 2006

Mazelas da artrite


Antes de falar sobre o fato de estar APOSENTADA, preciso voltar um pouco no tempo e falar sobre a causa.
Desde 1989 comecei a sentir dores nas articulações. Nessa época eu trabalhava numa agência de propaganda, a D&E. O problema começou com uma dor no joelho, que ficava quente, inchado e avermelhado, com uma dor que parecia estar com uma agulha enfiada na “junta”, aí não dava pra mover, ficava difícil pisar.
(Pensei: tô enferrujando!)
PRIMEIRAS PROVIDÊNCIAS
Procurei um médico clínico geral, que me passou uma injeção de Voltaren e mais nada. Fiquei algum tempo assim: quando doía, eu tomava a injeção e melhorava. Depois as dores começaram a andar pelo meu corpo. (Sim, é uma dor-que-anda). Passaram para os tornozelos, cotovelos, punhos e ombros, um de cada vez e cada vez mais fortes. Voltei ao médico e ele me encaminhou para um reumatologista, que suspeitou de ARTRITE REUMATÓIDE, confirmada por exames de sangue. Eu não sabia nada sobre essa doença, e o médico me explicou que era uma doença auto-imune, incurável porém tratável, mas que causava deformações nas articulações e aos poucos eu perderia os movimentos. (Pensei: tô fudida).
Ele me falou que EM POUCOS ANOS ERA MUITO PROVÁVEL QUE EU ESTIVESSE NUMA CADEIRA DE RODAS!
Fiquei apavorada e impressionada com a falta de sensibilidade do sacana do médico – como é que ele me fala assim, na lata, que logo, logo, eu ia ficar PARALÍTICA?
(E a expressão das pessoas quando eu dizia que estava com artrite? Era aquela expressão grave, incômoda, de pena, de quem olha pra alguém condenado a uma fatalidade.)
OUTROS MOVIMENTOS
Mudei de médico (a famosa segunda opinião) e dessa vez encontrei um que me falou que algumas pessoas reagiam bem ao tratamento e levavam uma vida normal, e que outras, não se sabe bem por que, apesar de seguir o mesmo tratamento, não tinham o mesmo resultado, ficavam realmente com mais deformações.
Um pouco mais animada (?), recomecei o tratamento, rezando para fazer parte do primeiro grupo, dos que reagiam bem. Fiquei um ano e meio tomando corticóide e antiinflamatórios (Meticorten e Metotrexate) e as dores melhoraram um pouco de intensidade, apenas ficava muito enjoada, meio zonza e sem apetite, mas se eu não tomasse os remédios por um dia ou mais, voltavam com força total. Apareceram algumas verrugas nos cotovelos e nos dedos das mãos e meu cabelo começou a cair.
(Pensei: “Essa p* está me fazendo mal, vou parar de tomar.” )

Um detalhe: todo mundo que toma corticóide engorda, incha; eu não, não engordei um grama sequer. Continuei magra e cada dia mais magra. Eu tenho 1,76m e estava com 50 quilos. Os medicamentos eram os mesmos usados em tratamento de pacientes com câncer.

Nesse meio tempo eu já havia mudado de emprego, trabalhei em campanhas de marketing político e depois fiquei desempregada. E as dores ali, naquele vai e vem.
Confesso que por longo tempo fui um tanto negligente, irresponsável, não levei muito a sério o tratamento, não procurei maiores informações e tinha hábitos de vida não muito saudáveis. Parei com tudo (...) e resolvi procurar um homeopata, um dos melhores da Bahia. Primeiro ele me disse que precisava eliminar as toxinas e resquícios dos medicamentos do organismo. Fiquei uma semana me alimentando somente de arroz integral e bebendo água para desintoxicar e depois passei para a alimentação natural indicada por ele: eliminar toda a proteína animal, TODA mesmo! – carne, frango, peixe, leite e derivados, ovo... chocolate nem pensar, enfim, tudo que eu adoro comer.
(Pensei: Meu Deus! ficar sem café, sem leite, manteiga, queijo, iogurte, bolos tortas, sem minha carne-de-sol... Só comendo grãos, cereais, frutas, legumes, verduras...)
Mas vamos lá, tudo pela saúde e pra me ver livre da dor e do fantasma da cadeira de rodas.
Claro, emagreci mais ainda. Comecei a tomar as bolinhas e gotinhas da homeopatia. Quem faz tratamento homeopático sabe: primeiro pioram os sintomas (no caso, as dores) pra depois começar a melhorar. É que a homeopatia funciona assim, de dentro pra fora.
DORES E MAIS DORES...
Foram os piores dias da minha vida. NINGUÉM PODE IMAGINAR O QUE SÃO AS DORES DE ARTRITE. Sabe lá o que é sentir dores fortíssimas, no corpo inteiro, 24 horas por dia, sem cessar? Jamais havia pensado sequer que pudessem existir dores tão insuportáveis. É uma “dor cansada”, a impressão que dá é de fraqueza muscular, é uma “dor-que-anda”. A artrite é assim: dói mais à noite e pela manhã. Você acorda toda dura, as articulações enrijecidas, com o desenrolar do dia vai melhorando e no fim da tarde recomeça a endurecer (e a doer). Não havia posição que ficasse que não doesse; pra dormir, então, era quase impossível: deitada doía, sentada doía, em pé doía. Tinha que procurar uma posição meio sentada, meio deitada, que doesse menos, calçar com travesseiros, recostar a cabeça em almofadas pra conseguir dormir... sentada! Pela manhã estava arrasada, cansada e mais dolorida ainda. Às vezes, durante a noite, quando eu achava que não ia mais suportar, juro que pensava até em me jogar pela janela
(por alguns segundos essa idéia realmente passava pela minha cabeça, mas felizmente o meu anjo da guarda me alertava: o que é isso? segure sua onda!).
Foi uma viagem ao inferno. Doente e desempregada, com um filho na pré-adolescência pra criar SOZINHA, educar, alimentar, dar amor e atenção... enfrentando problemas próprios dessa idade... lógico, fiquei deprimidíssima, só chorava e rezava. Eu tentava disfarçar, mas era impossível. Pra piorar, parece que todo mundo desapareceu de minha vida. Acho que as pessoas têm dificuldade de conviver com quem sente dor. Eu sentia o constrangimento dos amigos e da família ao me virem daquele jeito e procurava compreender. O fato é que muitas pessoas se afastaram, ninguém me convidava mais pra nada, sumiu quase todo mundo.
REAGINDO...
Acredito que a combinação de um ano e meio com corticóide e depois um ano e meio com homeopatia fez com que as dores ficassem ao menos suportáveis, quase imperceptíveis, somente aquela dorzinha de vez em quando. Não sei se é porque eu já estava acostumada com dores tão fortes que agora as que sentia eram “pinto”, eu tirava de letra, a não ser em ocasiões como véspera de chuva (virei serviço meteorológico), véspera de menstruação (na época, agora estou menopausada), de madrugada (virei Cinderela, tinha que estar em casa antes da meia-noite), em dias mais frios, quando passava muito tempo em ambiente com ar condicionado, quando caminhava mais que o normal (por exemplo,andar pelo Pelourinho, com aquelas pedras irregulares, era um suplício), quando dançava ou quando comia caranguejo (faz um mal terrível, mas eu comia e depois tomava remédio).
Quando comecei a melhorar (...?...), eu, indisciplinada, parei com a homeopatia e com a alimentação natureba. Foi quando resolvi reagir e procurar emprego. Fiz uma lista das agências e das pessoas que poderia procurar e fui à luta. A primeira que procurei foi a Engenhonovo; liguei e marquei uma entrevista. Fui contratada imediatamente. Isso foi em março de 1993.
MAIS UMA TENTATIVA
Depois de quase dez anos, tanta indisciplina fez com que as dores se intensificassem e eu resolvi voltar ao tratamento sério, com mais responsabilidade, desde que não fosse com corticóide.

Nesse meio tempo muita coisa mudou dentro de mim, na minha vida, no meu modo de encarar a vida e os problemas, mas isso é outra história, que tenho de relatar em outra ocasião.
Procurei uma reumatologista muito bem-conceituada com quem eu já havia me consultado antes, levei a maior bronca por não estar monitorando a doença com exames e por ter abandonado os medicamentos. (Que vergonha, como uma pessoa inteligente e bem informada como você pode estar nessa situação?!?).
Recomecei o tratamento, auxiliado com hidroginástica em piscina aquecida e fisioterapia. Ganhei peso, mais firmeza muscular e mobilidade nas articulações. (Viva!!!!)
Dra.Tereza, então, vendo a minha disposição para encarar seriamente o problema, me encaminhou para um programa do governo federal, que fornece medicamentos de uso contínuo e de alto custo. O medicamento chama-se ARAVA, que estou tomando uma vez por dia, juntamente com ácido fólico, com pouquíssimos efeitos colaterais.
No início, meu cabelo caiu um pouco e também ficava super enjoada (como no caso do Metotrexate), mas passou logo. O ARAVA também é similar aos medicamentos da quimioterapia, o princípio ativo é a leflunomida.
Hoje, já com meus 64 quilos e musculatura no lugar, depois de uma cirurgia na mão esquerda e outra no pé direito, meus pés e mãos ainda estão um pouco deformados (os dedos das mãos “fugiram” para o lado e os dedos dos pés ficaram “unidinhos" "montadinhos", como disse Camila), mas dores fortes eu não sinto mais e o medicamento impede o avanço das deformações, mantém a artrite sob controle e meus movimentos são os de uma pessoa comum.
A cadeira de rodas? Deixei lá atrás, no consultório daquele maluco.
A LUTA CONTINUA...

14 de set. de 2006

Loucos e Santos

"Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer,
mas pela pupila.
Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.
A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos.
Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo.
Deles não quero respostas, quero meu avesso.
Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim.
Para isso, só sendo louco.
Quero os santos, para que não duvidem das diferenças
e peçam perdão pelas injustiças.
Escolho meus amigos pela cara lavada e pela alma exposta.
Não quero só o ombro ou o colo, quero também sua maior alegria.
Amigo que não ri junto não sabe sofrer junto.
Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade.
Não quero risos previsíveis nem choros piedosos.
Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade
sua fonte de aprendizagem,
mas lutam para que a fantasia não desapareça.
Não quero amigos adultos nem chatos.
Quero-os metade infância e outra metade velhice!
Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto,
e velhos, para que nunca tenham pressa.
Tenho amigos para saber quem eu sou.
Pois os vendo loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos,
nunca me esquecerei de que normalidade é uma ilusão imbecil e estéril."

Oscar Wilde
Recebi esse texto de uma amiga já faz algum tempo, e desde então me despertou a curiosidade sobre a obra desse autor, de quem só conhecia partes de sua biografia, fragmentos de textos, citações...
Acabo de ler "O Retrato de Dorian Gray", que muito me impressionou.
Fui fisgada.

20 de mai. de 2006

Voltando

"Quase um ano sem postar, blog abandonado, vontade nenhuma de escrever... Idéias e assuntos se acumulando, se perdendo... Que fazer? Esperar a vontade voltar."

Quando deixei esse post no rascunho era maio de 2006.
Realmente deixei o "filho" abandonado, envolvida em outros caminhos, mas a vontade de alimentá-lo está voltando.
Aos que passaram por aqui neste período, dou as boas-vindas e peço desculpas pela ausência.
VOLTEI.

9 de nov. de 2005

Dedinhos

Por conta da artrite, meus dedos dos pés se amontoaram, ficaram montados uns nos outros. Já me acostumei, não estou mais tão preocupada assim com a estética, mas com a funcionalidade. Tive que me adaptar às dificuldades.

A respeito disso, algumas piadas e situações:

Camila, minha sobrinha-neta, estava com seus 4 anos quando descobriu que meus pés eram “diferentes” e disse pra mim:
- Tia, que lindo! eles são tão unidinhos!!

Lucas, um garotinho muito lindo, meu vizinho, também com a mesma idade, curioso, observava meus pés e perguntou por que eram assim, riu muito e chamou os amiguinhos pra ver também. A partir desse dia passou a me chamar de “Dedinhos”. A mãe quase morre de constrangimento toda vez que ele me encontra e na maior naturalidade me cumprimenta:
- Oi, Dedinhos, tudo bem?

Essas são as situações criadas por crianças, criaturinhas inocentes e sem maldade. Mas houve um caso, de uma colega de trabalho, que sempre achei superbonita, fina, chiquérrima, mas me olhava com uma certa inveja quando eu ia trabalhar de calça jeans de cós baixo, com a barriga de fora (só um pouquinho). Um dia, com a sala de reuniões cheia, ela não se conteve quando alguém elogiou meu corpitcho, acreditem: a criatura teve coragem de me sair com essa:

- Pois é, e tem 50 anos!... Deus deu a ela esse corpinho lindo, essa barriga “negativa” de adolescente, mas em compensação a fez míope e entortou as mãos e os pés. Ela não poderia querer tudo, né?
-
A platéia nem respirava, todo mundo procurando um lugar pra se enfiar.
De uma só vez ela quis me detonar “revelando” minha idade (que nunca escondi) e meu “defeito” (idem).
Minha resposta, em tom bem “doce”:


- Pois é, Deus é assim: em algumas pessoas ele entorta os dedos, em outras, o caráter.
Tóoooiiinnn!!!

Em tempo: eu não acho que Deus tenha nada a ver com isso, nem com os dedos nem com o caráter.

27 de out. de 2005

Maneta e na ativa



Há tempos (vejam a data) escrevi esse post e não consegui publicar. Recuperado, o post, não os dedos, resolvi publicar hoje pra ver se tomo vergonha (ou perco) e continuo escrevendo.
















Maneta e na ativa

Domingo, 15 de maio... vou tentar atualizar meu cantinho. Faz tempo que não venho aqui. Planejo, planejo, e sempre deixo pra depois. Os assuntos vão se acumulando e não sei por onde começar...
Estou escrevendo com um dedo só, da mão direita, pois a esquerda está engessada.

Fiz uma cirurgia pra corrigir os dedos no dia 6 e vou ficar um mês assim, maneta. Como eu gosto das coisas difíceis, resolvi escrever logo agora, com essa dificuldade. Eu sou assim, acredito em remédio amargo, injeção que doa muito, comprimido bem grande... se for docinho, sem dor, pequenininho, eu acho que não vai fazer efeito.

Seguinte: sou portadora de ARTRITE REUMATÓIDE, há uns 15 anos, e venho fazendo tratamento regularmente (mais ou menos), mantendo sob controle, pois não há "cura", o que se pode fazer é controlar o avanço da danada. Vocês não têm idéia do que sejam as dores!! Então, meus dedos começaram a entortar, a "fugir" pro lado, horrorosos, e eu estava já com dificuldade de movimento e sem jeito e força pra pegar e segurar os objetos. Resolvi operar, por indicação da minha reumatologista e do ortopedista. Agora, tô aqui, esperando pra ver o resultado.
Eu acredito que vai dar certo. Eu sou positiva e definitivamente bem-humorada. É o que me salva.

Mas essa história da Artrite (assim, com letra maiúscula mesmo, por respeito) eu conto em outra oportunidade, porque vai ser longa e eu quero contar, até pra alertar outras pessoas sobre essa doença, que aparece quase sem ser percebida e disfarçada, como se fosse uma dorzinha qualquer, daquelas que se toma um analgésico e pronto.

9 de mar. de 2005

Quase de volta ao meu blog

Estou numa completa roda-viva (graças a Deus), depois dos últimos acontecimentos. Desde então não tenho tido descanso, uma série de providências a serem tomadas (documentos, pagamentos... essas coisas inevitáveis)e agora um trabalho de revisão ENOOOOORME que caiu no meu colo de repente e urgente (como sempre o são). Enfim, estou sem tempo nem de me coçar. Só de vez em quando checo os e-mails e dou uma passadinha rápida nos blogs amigos. Mas não estou me queixando, não, afinal é uma grana extra (e bota extra nisso) que vai entrar em boa hora.
Depois que passar esse furacão eu volto, viu? Um grande beijo para todos.
Enquanto isso, deixo esse poema que encontrei nos meus guardados e do qual eu gosto muito:

SUGESTÃO
Flora Figueiredo

Faça o seguinte:
assopre o pensamento triste,
deixe escorrer a última lágrima,
conte até vinte.
Abra então a janela,
aquela que dá para o vôo dos pardais,
procure a luz que pisca lá na frente
(evite as sombras que ficaram lá pra trás).
Ao encontrá-la
coloque dentro do peito
de tal jeito que possa ser notada
do lado de fora;
acrescente agora uma pitada de poesia,
do tipo que passa por nós todos os dias
e nem sequer consegue ser notada;
aumente o brilho,
com toda a intensidade
de que um sorriso é capaz.
A felicidade é o seu limite,
e o paraíso é você mesma quem faz.

20 de fev. de 2005

E a vida continua

Pois é, depois das atribulações dos últimos dias, voltamos a tocar a vida.
Que estranho! Os dias estão diferentes, estou meio sem saber direito o que fazer ainda.
A casa tá vazia... Mas aos poucos a vida vai voltando ao normal.
Uma coisa boa: fui contratada para um trabalho de revisão enoooorme, um frila, que além de me ocupar bastante vai me dar uma boa grana extra.

5 de fev. de 2005

Aço frio de um punhal

"Aço frio de um punhal
foi seu adeus pra mim
Não crendo na verdade, implorei, pedi
As súplicas morreram, sem eco, em vão
Batendo nas paredes frias do apartamento
Torpor tomou-me todo
e eu fiquei sem ver mais nada
Adormecido tenha
talvez, quem sabe
Pela janela aberta
a fria madrugada
amortalhou-me a dor
com o manto da garoa
Esperança, morreste muito cedo
Saudade, cedo demais chegaste
Uma quando parte
a outra sempre chega
Chorar? Já lágrimas não tenho
Coração, por que é que tu não pára
A taça do meu sofrer findaste
É inútil prosseguir
se forças já não tenho

Tu sabes bem que ela era a minha vida
Meu doce e grande amor."



Essa era uma das músicas que meu pai mais gostava. "Súplica". E ele partiu nessa terça-feira, dia 1º, deixando uma saudade imensa no peito de todos nós, que partilhamos a vida com ele. Estava com 92 anos. Partiu serenamente, dormindo, com o seu dever mais que cumprido nesta existência. Tenho certeza de que agora ele está em paz.
Passamos os últimos sete anos juntos, eu, ele e Mateus. E agradeço a Deus por ter tido essa oportunidade, de cuidar dele, de conviver com ele em seus últimos dias.

Transcrevo aqui um e-mail que mandei pra minha sobrinha Julie no último aniversário dele, e que traduz bem o meu sentimento por ele:


Ju, amanhã, dia 14/11, é o aniversário de seu avô Nelson. Ele vai fazer 92 anos (!) mas ainda insiste em dizer que são só 90, como se fizesse alguma diferença. Ele sempre foi muito vaidoso, e quando ainda estava bem e forte, se orgulhava muito do físico e de não aparentar a idade que tinha, pois aos 80 e poucos anos ele ainda andava de bicicleta, andava até de moto, uma motoneta 50 cilindradas que ele comprou para ir ao sítio dele que ficava a 2 quilômetros de casa, e muitas vezes ia mesmo a pé. Tomava banho frio em qualquer estação, tomava banho de rio, tinha uma saúde de ferro e gostava de andar sempre muito arrumado e cheiroso. Depois do acidente (em 93) ele foi atingido duramente nessa vaidade, acredito que até por isso mesmo é que ele ficou deprimido e começou a definhar. Hoje, ainda tem boa saúde, conserva ainda uma memória razoável para fatos antigos, nomes das pessoas, das músicas que ainda gosta de cantar, conta piadas..., mas não anda mais, passa os dias sentado em sua cadeira-do-papai ou deitado. Estamos nos preparando para a partida dele, que pode ser breve ou ainda mais alguns anos, e estamos tentando dar um final de vida alegre e digno, com muito carinho e todo o cuidado possível. Agradeço a Deus pela oportunidade de poder cuidar dele esses anos todos, faço por ele o que não tivemos oportunidade de fazer por nossa mãe, que se foi tão cedo. Ele mudou a minha vida.
Outro dia ele me falou assim: "O que é que ainda estou fazendo aqui?" e eu respondi que ele ainda estava aqui por muitos motivos e que eu estava muito grata a ele por ter despertado em Mateus a afetividade e a doçura que ele tinha perdido pelo caminho da adolescência difícil que teve. Hoje Mateus é outra pessoa graças à presença dele em nossa vida. São amigos. Cúmplices nas brincadeiras e no gosto pela música. Ainda dá conselhos e Mateus ouve.
Ajudou também a mim, me tornou uma pessoa melhor.
Ele ficou muito emocionado e depois disso ficou mais alegre.
Me olhou bem nos olhos e falou assim: "quem diria, hein, minha filha?" Eu perguntei "quem diria o quê?" Ele disse: "Que hoje fosse você a cuidar de mim. A vida toda as pessoas diziam que você não tinha juízo, que era uma doidinha, irresponsável..." E aí ele riu muito, riu com gosto.


Agora estamos aqui, sem a sua presença, tentando nos acostumar com o vazio que deixou em nossa vida.

29 de jan. de 2005

Explicando a foto


Pedi a Julie pra me ensinar a colocar foto no blog e mandei essa aí.
Quem explica esse ataque de narcisismo? Eu, com 25 anos, clicada por um namorado apaixonado. Talvez seja saudade dele, ou de mim, sei lá. Mas adoro essa foto.
Eu com cara de antipática, metida, assim meio "olha como sou gostosa". Não sei como as pessoas me vêem hoje, com o dobro da idade da foto, mas quando me olho, acho igualzinha. (Quaquaquaquaquaaaa).

Estou com um monte de assuntos mais sérios na fila, mas hoje resolvi só divertir, refrescar.

26 de jan. de 2005

Incoerências

Hoje, no Jornal Nacional da Rede Globo, vi uma matéria sobre crianças de uma das tribos indígenas que ainda sobrevivem no Amazonas. Coisica de nada, apenas uma notinha. Dezenas de indiozinhos internados em estado grave de DESNUTRIÇÃO. Lembravam aquelas imagens que circulam nos jornais e na internet, das crianças africanas, e que emocionam o mundo inteiro. Magérrimos, esquálidos, com barrigões e olhos enormes, os últimos remanescentes dos verdadeiros brasileiros, morrendo de FOME, ao que parece, não inspiram nenhum sentimento nos brasileiros, que se juntam em campanhas de solidariedade pelas vítimas do tsunami na Indonésia. Arrecadamos centenas de toneladas de alimentos, roupas, milhões de litros de água mineral para os "nossos irmãos" da Ásia. Não que esses não necessitem de ajuda. Não é isso. O que me deixa indignada é ver milhares de brasileiros, adultos e crianças, morrendo de fome diariamente, não só índios, mas nordestinos e moradores das periferias, e não se vê toda essa mobilização da sociedade para tentar solucionar ou ao menos minimizar o sofrimento diário de toda essa gente, aqui tão perto de nós. Nenhuma estrela do cinema ou dos gramados ou das passarelas se preocupa em doar sequer um grão de feijão, nenhum ranking de quem deu mais para ser notícia na mídia mundial. Uma vez por ano nos lembramos deles, quando a TV faz um show para arrecadar grana para as crianças carentes. Depois, é como se tivéssemos aplacado nossa consciência com a doação feita, e nos esquecemos que essas crianças (e adultos) comem todos os dias, adoecem todos os dias, morrem todos os dias, há séculos. Nos esquecemos que uma tsunami seca passa todos os dias por cima dessa população e que nossos olhos estão voltados para Bali.

23 de jan. de 2005

Voltando...

Vocês não imaginam o que foi essa viagem ao interior... Pra começar, fomos, eu e Nélia, minha irmã, de ônibus comercial, pois a grana estava curta, mas não imaginávamos que seria um com 59 (!!!) poltronas. Um ônibus normal comporta, com um mínimo conforto, 36 lugares, mas 59 é desumano. Pensem: eu, com 1,76m, 1 metro só de pernas, felizmente magra. Nélia, um pouco menor, mas não tão magra, espremidas naquela lata de sardinhas por 8 horas, a noite inteira, seria pra chegar lá "entrevadas". Tentamos nos acomodar e chegamos à conclusão que era impossível, mas o ônibus já tinha saído da rodoviária, lotado, eu com as pernas para o corredor e Nélia toda torta do meu lado, virando de um lado pro outro. Ríamos de nervoso. Em Feira de Santana, 100 km depois, algumas pessoas saltaram e eu imediatamente me acomodei em seus lugares e fingi dormir para o caso de alguém sentar antes. Conseguimos viajar assim até Poções, onde chegamos às 5 da manhã, dois cacos, acabadas, p. da vida com a irresponsabilidade da empresa que coloca um ônibus daquele pra uma viagem noturna. "Quando chegar, a primeira coisa que vou fazer é dar uma queixa, reclamar, denunciar, fazer qualquer coisa, pelo menos pra desabafar." Ninguém merece!

Bom mesmo foi chegar e encontrar Licinha com a mesa pronta para o café da manhã com as coisas mais deliciosas que tem no interior: aipim cozido, requeijão, biscoito 'avoador', ovo de quintal, tapioca, café coado, leitinho quente, pãozinho fresco... ah, meu Deus, até deu pra esquecer a noite de cão. E o abraço de Tonha, aquela coisinha de 1 metro e meio de puro carinho, chorando de emoção com a surpresa de nossa chegada? (Ninguém falou pra ela que a gente ia chegar).

Antônia (Tonha) é uma pessoa muito querida e a razão de nossa visita. Ela está com 65 anos e recentemente teve um piripaque por causa da pressão alta. Ela foi criada por nossa avó Julinda, que morreu há 5 anos, aos 97 anos. Tonha cuidou dela até o último minuto de sua vida. Todos nós passamos pelo seu colo, recebemos seu cafuné, dormimos ouvindo suas canções de ninar e comendo as coisas gostosas que ela sempre fazia. Até hoje sabe o que cada um de nós gosta e sempre que vamos lá ela nos recebe com um agrado.

Em nosso passeio por Poções, encontramos também nossos antigos amigos e nossos outros parentes que ainda moram lá. Uma característica de nossa família é a longevidade. Lá em Poções moram três tias-avós paternas, uma com 96 (Tia Nem), outra com 87 (Tia Tide) e outra de 83(Tia Marica), que é minha madrinha e que toma conta das outras duas, cada uma em sua casa. Não querem de jeito nenhum morar juntas - fulana é cheia de manias, não dá certo, dizem umas das outras - todas muito independentes. Passamos uma tarde com elas, depois fomos dar uma volta pela cidade. Sabem como é cidade pequena, todo mundo olhando pra gente, às vezes alguém me reconhecia (eu morei lá mais tempo que os outros irmãos, lembram que eu contei? no tempo em que eu ainda era Lucinha). Eu e Nélia quase morríamos de rir com alguns nomes de casas comerciais. Uma papelaria e livraria: Zinho é Saber. Um açougue: Renan Vaca Gorda... e por aí vai. Mas tem até Lan House, acreditem! Isso se chama conteporaneidade do não-coetâneo. Lamentei não ter lembrado de levar uma câmera pra fotografar, não só essas coisas, mas a cidade toda, que é muito bonitinha, muito florida e bem cuidada (trouxe um monte de mudas de plantas pra alegrar minha varanda). Quando for levar Tonha de volta não vou esquecer.

Como em toda cidade de interior, não podia deixar de ter uma fofoca: depois que voltamos Licinha telefonou dizendo que "todos" ficaram comentando que, quando eu (tinha que ser eu, a sem-modos) fui almoçar no Mercado Municipal, me sentei com as pernas em cima do banco e estava "dando lance" com o vestido curto, os feirantes ficavam passando de lá pra cá pra ver. Hehehehe. Têm assunto pra mais de um mês. (E o vestido nem era tão curto assim.)

Agora Tonha está aqui em Salvador conosco, estamos levando-a pra passear, se divertir e para fazer todos os exames necessários (graças a Deus temos uma irmã médica, o que facilita muito).

Ah, sim, a viagem de volta foi de ônibus leito. Nós merecemos!

27 de dez. de 2004

E por falar em Poções...

Estou indo hoje pra Poções visitar Tonha e Licinha, depois de 5 anos (acreditem!). Licinha de vez em quando vem a Salvador, mas Tonha nunca saiu de lá. Volto quarta-feira (29) abastecida de carinho, histórias e coisas gostosas. Me aguardem.

23 de dez. de 2004

Natal

Não adianta, o Natal não me diz absolutamente nada. Ou melhor, fico um tanto irritada com esta euforia consumista e hipócrita das festas de Natal.
Eu gosto das pessoas o ano inteiro, não só no final do ano. Se eu quiser presentear, será qualquer dia, não quando o comércio exige. E afinal, dizem que Natal é pra comemorar o nascimento de Jesus, mas está provado que ele não nasceu em dezembro, e além disso, reparem que todo mundo só fala em "Papai Noel". É pra reforçar a obrigação de comprar, comprar, comprar, comer, comer, comer.

Help (minha cunhada querida) diz com muita propriedade:
"Coisas de gente que não se conforma com as injustiças deste mundo. E com a hipocrisia que é esta festa que não tem nada de confraternização, tem mesmo é muito consumismo pra deixar mais humilhados os que estão à margem da sociedade. "

É isso.
Feliz final de ano para todos.

22 de dez. de 2004

Infância
"Se queres ser universal, escreve sobre tua aldeia."
Ana Miranda (citando Tolstoi)

Estou escrevendo este post pra mim e "pra o pessoal lá de casa".

"Sejamos simples e calmos,
Como os regatos e as árvores,
E Deus amar-nos-á fazendo de nós
Belos como as árvores e os regatos,
E dar-nos-á verdor na sua primavera,
E um rio aonde ir ter quando acabemos!...

Da minha aldeia vejo quanto da terra se pode ver no Universo...
Por isso minha aldeia é tão grande como outra terra qualquer
Porque sou do tamanho do que vejo
E não do tamanho da minha altura...

Nas cidades a vida é mais pequena
Que aqui na minha casa no cimo deste outeiro.
Na cidade as grandes casas fecham a vista à chave,
Escondem o horizonte, empurram o nosso olhar para longe de todo o céu,
Tornam-nos pequenos porque nos tiram o que os nossos olhos nos podem dar,
E tornam-nos pobres porque nossa única riqueza é ver."

(Fernando Pessoa)


A melhor coisa de ter nascido em Iguaí, além das pessoas de lá, foi ter tantos rios à disposição: rio do Vigário, rio Preto, rio Gongogi, a Barragem, o “rio de D. Alice”, o rio que passava em nossa fazenda, o rio da fazenda de Arlete, o da água Vermelha, o rio do Pilão, o rio da ponte... Alguns nem eram rios, mas riachos, e são tantos e ao mesmo tempo são os mesmos, que apenas mudam de nome de acordo o local por onde passam. O rio era um lugar de brincar e também de lavar roupa, lavar e arear as panelas, pegar água para usar em casa quando ainda não havia rede de abastecimento... “lata d’água na cabeça, lá vai Maria, lá vai Maria...”
Hoje, quando eu conto essas coisas pra meus amigos, eles dizem que é impossível, que certas coisas só aconteciam na Idade Média, tipo cozinhar em fogão de lenha em panela de barro, carregar água em lombo de jegue, passar roupa com ferro a carvão, lamparina de azeite, lampião de gás... Coitados, sempre viveram em cidade grande, não tiveram a felicidade de conhecer a vida simples de uma cidadezinha como a nossa.

Quando eu ainda era Lucinha

Tive uma infância típica de quem nasceu e se criou no interior, com direito a muita liberdade, muita fruta comida no pé, muito banho de rio, muito leite tomado de manhãzinha direto no curral, muita brincadeira, muitas histórias, muitos amigos, vizinhos, primos, tios, avós, bisavó...

Tenho pouca lembrança real da minha primeira infância, lembro mais das coisas que me contavam sobre mim do que realmente lembranças minhas. Só sei mesmo é que era muito sapeca, inquieta, desobediente, transgressora, inventiva, “arteira”, mas ao mesmo tempo era muito alegre, muito carinhosa e isso aliviava um pouco a barra pro meu lado.

Lembro vagamente de uma cenas de quando eu tinha 4 anos e era uma menina moreninha e muito bonitinha: meu avô Arlindo sentado na sala, com a perna cruzada de um jeito que deixava um buraco e eu entrava por baixo pra sentar no colo dele e ouvir os casos que contava. Ele era um moreno bonito, assim meio cabo-verde, alto, magro, elegante. Era o tabelião da cidade e também foi vereador, presidente da Câmara e dono de alambique de cachaça.
Lembro também de quando foi construído o primeiro (e único até hoje) edifício de três andares de Iguaí, o “prédio do Sr. Leonel”, e eu gostava de brincar nos andaimes (o maior perigo), eu devia ser muito pequena e tenho essa imagem na memória: eu, com meus cabelos lisos e quase na cintura, com um vestidinho vermelho, pulando entre os esqueletos das paredes recém-construídas (eu considerava aquilo um “arranha-céu”), acho que minha mãe ficava com os cabelos em pé ao me ver naquelas alturas e mandava alguém me tirar de lá.
Quando a gente é pequena tem mania de viver subindo nas coisas: adorava subir nas árvores do quintal de casa – havia muitas: abacateiro, limoeiro, pimenteira, bananeiras, fruta-do-conde, goiabeiras e muitas mangueiras, e tinha uma especial com um galho torto formando uma “cadeira”, bem no alto, onde eu subia pra ler, pra “estudar”, pra me esconder e ficar sozinha pensando na vida, encarapitada lá no alto (levava uma faquinha e um pouco de sal pra comer manga verde)... subia também no tanque de água no telhado, de onde podia ver a quase toda a cidade. Vivia subindo nos muros, pelo simples prazer de me arriscar, me equilibrando em cima deles. E não só eu, meus irmãos e a meninada toda gostava de brincar assim, nas alturas.

Meus Deus! e quando chovia, era uma festa! Em vez de correr pra dentro de casa, nos abrigar, corríamos pra fora, (deixa, mãe, deixa, vá...) pra tomar banho de chuva, nas bicas dos telhados, descer nas enxurradas usando um caixote de madeira ou uma palha de coqueiro, fazer “barragens”, colocar barquinhos de papel... Preocupação com doença? Nenhuma. A terra molhada ficava melhor pra brincar de “triângulo” e também pra fazer as balas dos badoques, de barro, pra matar passarinho e assar pra comer (!!) - ninguém falava ainda em ecologia -, ou pra fazer pequenos tijolos com caixas de fósforos com os quais construíamos casinhas em miniatura, com todos os detalhes, verdadeiras obras de arte, como pequenos arquitetos. Sábado era o dia da feira e de brincar de “cozinhado” – armar um fogo no chão com tijoles, gravetos e cada um levava alguma coisa de casa ou então pedia colaboração aos feirantes, que já sabiam da tradição e colaboravam com o maior gosto. Era aí, nessa brincadeira, que as meninas aprendiam a cozinhar. E obrigávamos os meninos a ajudar senão não podiam comer. Fazíamos cada comida! até casca de melancia pra fazer “cortado” servia.

Que pena que tenho dos meninos de agora, nossos filhos e netos, que não brincam com nada disso. Vivem presos em playgrounds ou em casa. Brincar na rua? Coisa rara. Depende do lugar. É muito perigoso. Os brinquedos já vêm prontos, eles não têm a chance de inventar quase nada. Alguns, os que têm computador em casa, passam horas ali, sozinhos, hipnotizados diante dos games, frenéticos no manuseio do mouse ou do joystick. Muito diferente de nós, que tínhamos de inventar tudo, fazer os próprios brinquedos. Carretéis de linha e palitos de picolé viravam tratores Cartepillar, frutas verdes ou “pêcas” viravam vaquinhas, bezerros, palitos de fósforos no lugar de pernas e chifres. Quase todas as brincadeiras eram coletivas e nos estimulavam a criatividade. Brinquedos comprados? Só uma vez por ano, no Natal ou no aniversário, e olhe lá... era o normal. Tanto que me lembro de cada um deles. Isso não é saudosismo, é só constatação. Falando assim parece que tenho uns cem anos, mas é só a metade.


Parte 2


É engraçado, eu tinha umas amizades com pessoas mais velhas: D. Eulinda, da Prefeitura, lugar onde eu gostava muito de ir, sentava perto dela e tome conversa! Lembro perfeitamente dos livros nas estantes da biblioteca, eu ficava fascinada olhando pra eles. Às vezes me deixavam folhear (eu ainda não sabia ler). Tem uma história que me contavam, que quando queria ir lá eu dizia: "olha, mãe, dona Eulinda tá me chamando" ( detalhe: de lá de casa não dava pra ver o prédio da prefeitura). Além de D. Eulinda, tinha o Sr. João Pinto, o sapateiro e seleiro; era meu amigo, e eu ficava horas sentada no seu balcão conversando, ouvindo rádio, e ele me dava algumas “prendas”: uns pedacinhos de couro trabalhados, que eu levava pra casa como tesouros. Um dia ele me deu um pedaço grande, com o formato de uma palmatória (sabem o que é?) e eu levei pra minha mãe, toda importante, e disse: “mãe, olha o que seu João Pinto deu pra senhora bater nos meninos”. Ela riu e dependurou a tira de couro em um prego na parede perto do espelho e da bacia que era usada pra lavar as mãos, na copa (ainda não tinha banheiro com pia). A primeira a inaugurar o presente fui eu mesma. Fiz uma arte qualquer e levei uma surra. Fiquei com muita raiva e dei sumiço no tal pedaço de couro, me senti traída.

Parte 3


Quando eu estava com 7 anos, a nossa família cresceu inesperadamente. Meu tio Julindo, irmão de meu pai, ficou viúvo com seis filhos e veio morar em nossa fazenda. Ganhamos seis primos que não conhecíamos ainda: Licinha, Dinalva, Florisvaldo, Edvaldo, Lourival e Zelito. Licinha, com 20 e poucos anos, e Zelito, com minha idade, ficaram morando lá em casa, na cidade. Os outros ficaram na fazenda, exceto Dinalva, que foi morar em Jequié, na casa de tio Arsênio. Dinalva, Florisvaldo e Edvaldo eram bem morenos e pareciam índios, os outros eram mais brancos. Foi uma época de descobertas e de muitas histórias contadas por eles. Tinha cada caso!... À noite, antes de dormir, ficávamos horas ouvindo as histórias que Licinha e Dinalva contavam lá da terra delas, a região rural de Maracás. Casos de assombrações, de um monstro fantástico com “cabeça de cachorro, perna de garrafa, mão de pá, barriga de maxixe” chamado ‘Cacodia’..., casos de lobisomens, de cobras, enfim, um mundo de coisas, contados com aquele sotaque e uma linguagem completamente diferente. As meninas tinham umas roupas e acessórios parecidos com coisas de ciganas, as saias compridas imensamente rodadas, coloridas e engomadas, e muitas bijouterias diferentes das que estávamos acostumadas a ver. Nós ficávamos olhando para aquelas coisas, fascinadas... pelo menos eu ficava. Era tudo tão novo, tão diferente! Dinalva era muito engraçada, era a cigana-índia e falava bem rápido, sempre repetindo o nome da pessoa que escutava no final de cada frase. Zelito logo se tornou meu melhor amigo, tínhamos a mesma idade e foi estudar na mesma classe que eu. Licinha ajudava minha mãe em casa, era mais próxima de Nélia, e quando Lena nasceu era ela quem cuidava.


Parte 4

Depois a lembrança vai até Poções, onde fui morar na casa de minha vó Julinda. Como foram bons aqueles tempos! Não me lembro por que fui morar com minha vó, só sei que gostei muito. Primeiro porque eu gostava muito dela e de minha bisa Cassiana. E o segundo era um motivo bem egoísta: porque eu era a única criança da casa e tinha todas as regalias e atenções só pra mim. Além de vó e bisa, tinha Antônia e Joaquim.
Poções fica a 50 km de Iguaí e meus irmãos e primos iam pra lá nas férias. A casa de vó Julinda era como um sítio, uma chácara dentro da cidade, tinha um quintal enoooorme, com uma horta, muitas árvores, plantações de todo tipo, um pequeno lago - na verdade um tanque natural -, e muitos canteiros de flores. Por ter o clima frio, minha vó cultivava algumas flores e frutas próprios do clima: figo, marmelo, pêssego, maçã, romã. As flores eram copos-de-leite, lírios, dálias, rosas... Havia também o “quintal das galinhas”, com dezenas delas, de todas as formas: as arrepiadas, do pescoço pelado, as gordinhas, as de angola, os galos imponentes e os garnizés, as frangas adolescentes, as galinhas “de botar”, as chocas com pintinhos. Toda tarde os ovos eram recolhidos dos ninhos – a gente tinha que procurar nos buracos do gravatá que servia de cerca e às vezes encontrávamos também alguma cobra. Era aquele escândalo, pois Antônia morria de medo de cobra e gritava desesperada até minha vó vir matar. Era tão comum que já tinha em casa um “pau de matar cobra”. Minha vó e minha mãe eram mestras nesse trabalho. Mulheres retadas!
Essas são as lembranças mais remotas que tenho. Depois conto mais.

"É história que não acaba nunca."

9 de dez. de 2004

Borboletas

Estão vendo essa borboleta aí em cima? É a mesma da minha proteção de tela e é parecida com a tatuagem que tenho na nuca. Tem também um monte delas coladas na moldura do monitor, dessas coloridinhas e brilhantes dos stickers que adolescentes gostam (e eu também, pois tenho ainda uma adolescente dentro de mim). Pois é. Tenho mania por borboletas. Acho a coisa mais linda do mundo. Dizem que é o símbolo da transformação (lagarta, casulo... e tchan! lá estão elas, as flores que voam perto das outras flores) e é por isso que gosto tanto delas. Agora que tenho mais tempo pra ficar mais em casa, volta e meia vejo as que aparecem na varanda. Amarelas com riscos e bolinhas pretas, com aquele rabinho comprido, outras menores, pretas com desenhos azuis...
Pensando bem, acho que vou tatuar uma revoada de borboletas perto da que já tenho, assim descendo (subindo) pelo ombro.

30 de nov. de 2004

Sobre mim

Há algum tempo venho pensando em escrever sobre as coisas de minha vida, meus sentimentos, minhas lembranças, meus amigos, minha família, meus amores, enfim, sobre todas as coisas.
Já havia começado a escrever alguma coisa no computador e arquivando com o nome "Sobre todas as coisas". Aí resolvi: e por que não um blog? Sem pretensão literária, escrevendo como converso e como as coisas me vêm à memória talvez eu me acostume. Pedi a Liza e a Juliana, minhas sobrinhas, que me ajudassem a criar um blog, pois não fazia a menor idéia de como fazer isso. Liza ficou me enrolando e então Ju (mesmo morando na Itália, viu, Kika?) foi mais rápida e vapt! Cá está. Vou tentar. Quem passar por aqui será muito bem-vindo. Se gostar, ótimo, se não, é só não acessar.

Tenho 51 anos, capricorniana, nascida em uma cidadezinha do interior da Bahia – Iguaí – e mesmo morando em Salvador há mais de 30 anos ainda não me considero soteropolitana. Terceira dos seis filhos de Sr. Nelson e D. Júlia, irmã de Nélia, Pedro, Arlindo, Marilena e Nelsinho. Mãe de Mateus, um rapaz muito lindo de 26 anos. Ex-professora, ex-secretária, revisora publicitária, recém-aposentada, trabalhando como revisora free lancer e artesã. Moro com meu filho e meu pai no bairro do Rio Vermelho, numa rua bem tranqüila, onde ainda tem muito verde e dá pra acordar ouvindo os passarinhos. Gosto principalmente de ler (tudo que me caia nas mãos), de inventar coisas pra fazer, de ouvir música, de TV, de praia e também do ócio - como boa baiana, adoro ficar sem fazer nada, só olhando a natureza, ouvindo o silêncio, pensando. Quando é possível.

Inaugurando

Julie acaba de criar meu blog e estou tentando inaugurar.