29 de jan. de 2005

Explicando a foto


Pedi a Julie pra me ensinar a colocar foto no blog e mandei essa aí.
Quem explica esse ataque de narcisismo? Eu, com 25 anos, clicada por um namorado apaixonado. Talvez seja saudade dele, ou de mim, sei lá. Mas adoro essa foto.
Eu com cara de antipática, metida, assim meio "olha como sou gostosa". Não sei como as pessoas me vêem hoje, com o dobro da idade da foto, mas quando me olho, acho igualzinha. (Quaquaquaquaquaaaa).

Estou com um monte de assuntos mais sérios na fila, mas hoje resolvi só divertir, refrescar.

26 de jan. de 2005

Incoerências

Hoje, no Jornal Nacional da Rede Globo, vi uma matéria sobre crianças de uma das tribos indígenas que ainda sobrevivem no Amazonas. Coisica de nada, apenas uma notinha. Dezenas de indiozinhos internados em estado grave de DESNUTRIÇÃO. Lembravam aquelas imagens que circulam nos jornais e na internet, das crianças africanas, e que emocionam o mundo inteiro. Magérrimos, esquálidos, com barrigões e olhos enormes, os últimos remanescentes dos verdadeiros brasileiros, morrendo de FOME, ao que parece, não inspiram nenhum sentimento nos brasileiros, que se juntam em campanhas de solidariedade pelas vítimas do tsunami na Indonésia. Arrecadamos centenas de toneladas de alimentos, roupas, milhões de litros de água mineral para os "nossos irmãos" da Ásia. Não que esses não necessitem de ajuda. Não é isso. O que me deixa indignada é ver milhares de brasileiros, adultos e crianças, morrendo de fome diariamente, não só índios, mas nordestinos e moradores das periferias, e não se vê toda essa mobilização da sociedade para tentar solucionar ou ao menos minimizar o sofrimento diário de toda essa gente, aqui tão perto de nós. Nenhuma estrela do cinema ou dos gramados ou das passarelas se preocupa em doar sequer um grão de feijão, nenhum ranking de quem deu mais para ser notícia na mídia mundial. Uma vez por ano nos lembramos deles, quando a TV faz um show para arrecadar grana para as crianças carentes. Depois, é como se tivéssemos aplacado nossa consciência com a doação feita, e nos esquecemos que essas crianças (e adultos) comem todos os dias, adoecem todos os dias, morrem todos os dias, há séculos. Nos esquecemos que uma tsunami seca passa todos os dias por cima dessa população e que nossos olhos estão voltados para Bali.

23 de jan. de 2005

Voltando...

Vocês não imaginam o que foi essa viagem ao interior... Pra começar, fomos, eu e Nélia, minha irmã, de ônibus comercial, pois a grana estava curta, mas não imaginávamos que seria um com 59 (!!!) poltronas. Um ônibus normal comporta, com um mínimo conforto, 36 lugares, mas 59 é desumano. Pensem: eu, com 1,76m, 1 metro só de pernas, felizmente magra. Nélia, um pouco menor, mas não tão magra, espremidas naquela lata de sardinhas por 8 horas, a noite inteira, seria pra chegar lá "entrevadas". Tentamos nos acomodar e chegamos à conclusão que era impossível, mas o ônibus já tinha saído da rodoviária, lotado, eu com as pernas para o corredor e Nélia toda torta do meu lado, virando de um lado pro outro. Ríamos de nervoso. Em Feira de Santana, 100 km depois, algumas pessoas saltaram e eu imediatamente me acomodei em seus lugares e fingi dormir para o caso de alguém sentar antes. Conseguimos viajar assim até Poções, onde chegamos às 5 da manhã, dois cacos, acabadas, p. da vida com a irresponsabilidade da empresa que coloca um ônibus daquele pra uma viagem noturna. "Quando chegar, a primeira coisa que vou fazer é dar uma queixa, reclamar, denunciar, fazer qualquer coisa, pelo menos pra desabafar." Ninguém merece!

Bom mesmo foi chegar e encontrar Licinha com a mesa pronta para o café da manhã com as coisas mais deliciosas que tem no interior: aipim cozido, requeijão, biscoito 'avoador', ovo de quintal, tapioca, café coado, leitinho quente, pãozinho fresco... ah, meu Deus, até deu pra esquecer a noite de cão. E o abraço de Tonha, aquela coisinha de 1 metro e meio de puro carinho, chorando de emoção com a surpresa de nossa chegada? (Ninguém falou pra ela que a gente ia chegar).

Antônia (Tonha) é uma pessoa muito querida e a razão de nossa visita. Ela está com 65 anos e recentemente teve um piripaque por causa da pressão alta. Ela foi criada por nossa avó Julinda, que morreu há 5 anos, aos 97 anos. Tonha cuidou dela até o último minuto de sua vida. Todos nós passamos pelo seu colo, recebemos seu cafuné, dormimos ouvindo suas canções de ninar e comendo as coisas gostosas que ela sempre fazia. Até hoje sabe o que cada um de nós gosta e sempre que vamos lá ela nos recebe com um agrado.

Em nosso passeio por Poções, encontramos também nossos antigos amigos e nossos outros parentes que ainda moram lá. Uma característica de nossa família é a longevidade. Lá em Poções moram três tias-avós paternas, uma com 96 (Tia Nem), outra com 87 (Tia Tide) e outra de 83(Tia Marica), que é minha madrinha e que toma conta das outras duas, cada uma em sua casa. Não querem de jeito nenhum morar juntas - fulana é cheia de manias, não dá certo, dizem umas das outras - todas muito independentes. Passamos uma tarde com elas, depois fomos dar uma volta pela cidade. Sabem como é cidade pequena, todo mundo olhando pra gente, às vezes alguém me reconhecia (eu morei lá mais tempo que os outros irmãos, lembram que eu contei? no tempo em que eu ainda era Lucinha). Eu e Nélia quase morríamos de rir com alguns nomes de casas comerciais. Uma papelaria e livraria: Zinho é Saber. Um açougue: Renan Vaca Gorda... e por aí vai. Mas tem até Lan House, acreditem! Isso se chama conteporaneidade do não-coetâneo. Lamentei não ter lembrado de levar uma câmera pra fotografar, não só essas coisas, mas a cidade toda, que é muito bonitinha, muito florida e bem cuidada (trouxe um monte de mudas de plantas pra alegrar minha varanda). Quando for levar Tonha de volta não vou esquecer.

Como em toda cidade de interior, não podia deixar de ter uma fofoca: depois que voltamos Licinha telefonou dizendo que "todos" ficaram comentando que, quando eu (tinha que ser eu, a sem-modos) fui almoçar no Mercado Municipal, me sentei com as pernas em cima do banco e estava "dando lance" com o vestido curto, os feirantes ficavam passando de lá pra cá pra ver. Hehehehe. Têm assunto pra mais de um mês. (E o vestido nem era tão curto assim.)

Agora Tonha está aqui em Salvador conosco, estamos levando-a pra passear, se divertir e para fazer todos os exames necessários (graças a Deus temos uma irmã médica, o que facilita muito).

Ah, sim, a viagem de volta foi de ônibus leito. Nós merecemos!