1 de out. de 2006

Mazelas da artrite


Antes de falar sobre o fato de estar APOSENTADA, preciso voltar um pouco no tempo e falar sobre a causa.
Desde 1989 comecei a sentir dores nas articulações. Nessa época eu trabalhava numa agência de propaganda, a D&E. O problema começou com uma dor no joelho, que ficava quente, inchado e avermelhado, com uma dor que parecia estar com uma agulha enfiada na “junta”, aí não dava pra mover, ficava difícil pisar.
(Pensei: tô enferrujando!)
PRIMEIRAS PROVIDÊNCIAS
Procurei um médico clínico geral, que me passou uma injeção de Voltaren e mais nada. Fiquei algum tempo assim: quando doía, eu tomava a injeção e melhorava. Depois as dores começaram a andar pelo meu corpo. (Sim, é uma dor-que-anda). Passaram para os tornozelos, cotovelos, punhos e ombros, um de cada vez e cada vez mais fortes. Voltei ao médico e ele me encaminhou para um reumatologista, que suspeitou de ARTRITE REUMATÓIDE, confirmada por exames de sangue. Eu não sabia nada sobre essa doença, e o médico me explicou que era uma doença auto-imune, incurável porém tratável, mas que causava deformações nas articulações e aos poucos eu perderia os movimentos. (Pensei: tô fudida).
Ele me falou que EM POUCOS ANOS ERA MUITO PROVÁVEL QUE EU ESTIVESSE NUMA CADEIRA DE RODAS!
Fiquei apavorada e impressionada com a falta de sensibilidade do sacana do médico – como é que ele me fala assim, na lata, que logo, logo, eu ia ficar PARALÍTICA?
(E a expressão das pessoas quando eu dizia que estava com artrite? Era aquela expressão grave, incômoda, de pena, de quem olha pra alguém condenado a uma fatalidade.)
OUTROS MOVIMENTOS
Mudei de médico (a famosa segunda opinião) e dessa vez encontrei um que me falou que algumas pessoas reagiam bem ao tratamento e levavam uma vida normal, e que outras, não se sabe bem por que, apesar de seguir o mesmo tratamento, não tinham o mesmo resultado, ficavam realmente com mais deformações.
Um pouco mais animada (?), recomecei o tratamento, rezando para fazer parte do primeiro grupo, dos que reagiam bem. Fiquei um ano e meio tomando corticóide e antiinflamatórios (Meticorten e Metotrexate) e as dores melhoraram um pouco de intensidade, apenas ficava muito enjoada, meio zonza e sem apetite, mas se eu não tomasse os remédios por um dia ou mais, voltavam com força total. Apareceram algumas verrugas nos cotovelos e nos dedos das mãos e meu cabelo começou a cair.
(Pensei: “Essa p* está me fazendo mal, vou parar de tomar.” )

Um detalhe: todo mundo que toma corticóide engorda, incha; eu não, não engordei um grama sequer. Continuei magra e cada dia mais magra. Eu tenho 1,76m e estava com 50 quilos. Os medicamentos eram os mesmos usados em tratamento de pacientes com câncer.

Nesse meio tempo eu já havia mudado de emprego, trabalhei em campanhas de marketing político e depois fiquei desempregada. E as dores ali, naquele vai e vem.
Confesso que por longo tempo fui um tanto negligente, irresponsável, não levei muito a sério o tratamento, não procurei maiores informações e tinha hábitos de vida não muito saudáveis. Parei com tudo (...) e resolvi procurar um homeopata, um dos melhores da Bahia. Primeiro ele me disse que precisava eliminar as toxinas e resquícios dos medicamentos do organismo. Fiquei uma semana me alimentando somente de arroz integral e bebendo água para desintoxicar e depois passei para a alimentação natural indicada por ele: eliminar toda a proteína animal, TODA mesmo! – carne, frango, peixe, leite e derivados, ovo... chocolate nem pensar, enfim, tudo que eu adoro comer.
(Pensei: Meu Deus! ficar sem café, sem leite, manteiga, queijo, iogurte, bolos tortas, sem minha carne-de-sol... Só comendo grãos, cereais, frutas, legumes, verduras...)
Mas vamos lá, tudo pela saúde e pra me ver livre da dor e do fantasma da cadeira de rodas.
Claro, emagreci mais ainda. Comecei a tomar as bolinhas e gotinhas da homeopatia. Quem faz tratamento homeopático sabe: primeiro pioram os sintomas (no caso, as dores) pra depois começar a melhorar. É que a homeopatia funciona assim, de dentro pra fora.
DORES E MAIS DORES...
Foram os piores dias da minha vida. NINGUÉM PODE IMAGINAR O QUE SÃO AS DORES DE ARTRITE. Sabe lá o que é sentir dores fortíssimas, no corpo inteiro, 24 horas por dia, sem cessar? Jamais havia pensado sequer que pudessem existir dores tão insuportáveis. É uma “dor cansada”, a impressão que dá é de fraqueza muscular, é uma “dor-que-anda”. A artrite é assim: dói mais à noite e pela manhã. Você acorda toda dura, as articulações enrijecidas, com o desenrolar do dia vai melhorando e no fim da tarde recomeça a endurecer (e a doer). Não havia posição que ficasse que não doesse; pra dormir, então, era quase impossível: deitada doía, sentada doía, em pé doía. Tinha que procurar uma posição meio sentada, meio deitada, que doesse menos, calçar com travesseiros, recostar a cabeça em almofadas pra conseguir dormir... sentada! Pela manhã estava arrasada, cansada e mais dolorida ainda. Às vezes, durante a noite, quando eu achava que não ia mais suportar, juro que pensava até em me jogar pela janela
(por alguns segundos essa idéia realmente passava pela minha cabeça, mas felizmente o meu anjo da guarda me alertava: o que é isso? segure sua onda!).
Foi uma viagem ao inferno. Doente e desempregada, com um filho na pré-adolescência pra criar SOZINHA, educar, alimentar, dar amor e atenção... enfrentando problemas próprios dessa idade... lógico, fiquei deprimidíssima, só chorava e rezava. Eu tentava disfarçar, mas era impossível. Pra piorar, parece que todo mundo desapareceu de minha vida. Acho que as pessoas têm dificuldade de conviver com quem sente dor. Eu sentia o constrangimento dos amigos e da família ao me virem daquele jeito e procurava compreender. O fato é que muitas pessoas se afastaram, ninguém me convidava mais pra nada, sumiu quase todo mundo.
REAGINDO...
Acredito que a combinação de um ano e meio com corticóide e depois um ano e meio com homeopatia fez com que as dores ficassem ao menos suportáveis, quase imperceptíveis, somente aquela dorzinha de vez em quando. Não sei se é porque eu já estava acostumada com dores tão fortes que agora as que sentia eram “pinto”, eu tirava de letra, a não ser em ocasiões como véspera de chuva (virei serviço meteorológico), véspera de menstruação (na época, agora estou menopausada), de madrugada (virei Cinderela, tinha que estar em casa antes da meia-noite), em dias mais frios, quando passava muito tempo em ambiente com ar condicionado, quando caminhava mais que o normal (por exemplo,andar pelo Pelourinho, com aquelas pedras irregulares, era um suplício), quando dançava ou quando comia caranguejo (faz um mal terrível, mas eu comia e depois tomava remédio).
Quando comecei a melhorar (...?...), eu, indisciplinada, parei com a homeopatia e com a alimentação natureba. Foi quando resolvi reagir e procurar emprego. Fiz uma lista das agências e das pessoas que poderia procurar e fui à luta. A primeira que procurei foi a Engenhonovo; liguei e marquei uma entrevista. Fui contratada imediatamente. Isso foi em março de 1993.
MAIS UMA TENTATIVA
Depois de quase dez anos, tanta indisciplina fez com que as dores se intensificassem e eu resolvi voltar ao tratamento sério, com mais responsabilidade, desde que não fosse com corticóide.

Nesse meio tempo muita coisa mudou dentro de mim, na minha vida, no meu modo de encarar a vida e os problemas, mas isso é outra história, que tenho de relatar em outra ocasião.
Procurei uma reumatologista muito bem-conceituada com quem eu já havia me consultado antes, levei a maior bronca por não estar monitorando a doença com exames e por ter abandonado os medicamentos. (Que vergonha, como uma pessoa inteligente e bem informada como você pode estar nessa situação?!?).
Recomecei o tratamento, auxiliado com hidroginástica em piscina aquecida e fisioterapia. Ganhei peso, mais firmeza muscular e mobilidade nas articulações. (Viva!!!!)
Dra.Tereza, então, vendo a minha disposição para encarar seriamente o problema, me encaminhou para um programa do governo federal, que fornece medicamentos de uso contínuo e de alto custo. O medicamento chama-se ARAVA, que estou tomando uma vez por dia, juntamente com ácido fólico, com pouquíssimos efeitos colaterais.
No início, meu cabelo caiu um pouco e também ficava super enjoada (como no caso do Metotrexate), mas passou logo. O ARAVA também é similar aos medicamentos da quimioterapia, o princípio ativo é a leflunomida.
Hoje, já com meus 64 quilos e musculatura no lugar, depois de uma cirurgia na mão esquerda e outra no pé direito, meus pés e mãos ainda estão um pouco deformados (os dedos das mãos “fugiram” para o lado e os dedos dos pés ficaram “unidinhos" "montadinhos", como disse Camila), mas dores fortes eu não sinto mais e o medicamento impede o avanço das deformações, mantém a artrite sob controle e meus movimentos são os de uma pessoa comum.
A cadeira de rodas? Deixei lá atrás, no consultório daquele maluco.
A LUTA CONTINUA...

2 Comentários:

Blogger Unknown disse...

Bom dia,

Estou falando do sul de minas, na cidade de Elói mendes -MG. Li sua história sobre a doença. E coicinde igualmente, até os detalhes com a de minha mãe. Que possui um reumatismo muito forte.

Se voçê recebeu este e-mail, por favor responda para gente compartilhar experincias.

Att.
Cadmiel

12 janeiro, 2011  
Blogger Ana Lucia disse...

oi, kk
mande-me seu e-mail para facilitar.
um abraço pra vc e outro pra sua mãe.
Ana

13 janeiro, 2011  

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